quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Copo

'Pulou as poças d'água, que refletiam mais céu do que as folhas nas copas das árvores. Estava tudo assim meio dezimado. Era quase verão e o invendo ia dando tchau, assim olhando pra trás de vez em quando, como uma lembrança, como uma brisa gelada que vem as vezes antecedendo o verão com intuíto de fazer o sol lembrar do frio, lembrar que ele existe e esteve por alí a algumas horas/meses atrás, antes de sumir pelas estradas e não mais ficar acenando enquanto olhava pra trás.
Então...Ele!
Pulou as poças e se lembrou criança.
Pulou as poças e se lembrou adolescente; pressas, causas, revoltas.
Pulou as poças e se lembrou velho; a poça um descuido, o pé e a poça sem querer, foi culpa dos olhos miopes e gastos pelo tempo, culpa talvez de um esquecimento.
Naquela rua apesar de tantos anos ainda havia aquele buraço cheio de água, que molhava o Filla botinha, o All Star vermelho, a Sapato preto, e as meias também até o tornozelo.
Molhava tudo e todos. - Ninguém escapava da armadilha traiçoeira que se abria no vão daquela rua; e molhava.
Só não molhava a poesia, poesia que vinha logo após que o pé submergia daquela poça e tomava o seu rumo. Não, esta não, esta vinha com força de erupção, encantava e tomava conta das mentes distraídas que por descuido esqueciam-se o pé naquela poça de água gelada por alguns segundos.
Muitos seguiam o seu caminho como se nada tivesse acontecido, outros tiravam folhas de caderno e caneta de suas bolsas e pastas e escreviam ali mesmo, qualquer coisa o que viesse a mente. E era sempre aquela poesia doce, forte, triste que vinha submergindo junto com o pé, junto com a mente, numa erupção.
E assim, escreviam o que pensavam! E guardavam os seus papéis no bolço, e jogavam pelas ruas, e trocavam-se de poesia e dançavam todos juntos quando chovia e a poça se enchia cada vez mais.
De água, de alegria!P-O-E-S-I-A!'

(C.M.P)

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