quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"Nel mezzo del camin...

"Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo."

(Poeta das Estrelas).

conlui

'Se preocupe mais contigo que terás mais ela'

(C.M.P - De uma conversa com Pedro Hellmanns)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O olhar como espelho de outro olhar

'Alguma coisa nova que me faça acreditar, que aquela luz não é ilusão.
Que o palco não ficou solitário e nem que os textos tenham voado até cairem no chão.
Que a corda ainda esteja alí, a fazer com que a cortina permanessa aberta e aquele nariz redondo e vermelho ainda tenha cor.
Que á frente haja um jardim, quero ver nas alturas borboletas, flautas e o amor;
e quando nos deitarmos na grama veremos a vida a partir da nossa imaginação.
Quero algo pra fazernos duas crianças novamente; algo pra crescer. O jardim florido à nossa frente como platéia, para que possamos desvenda-lo com sorrisos e abraços.
Adultos saltaremos de mãos dadas daquele palco, e cairemos alí sobre as flores crianças, depois transformaremo-nos em amantes, depois companheiros já velhos pelo escoar da ampulheta e pelo raiar da estrela maior sobre a pele.
-'Eu te imagino assim, sempre ao lado meu'.
E aquelas flores amarelas hão de abençoar e traduzir toda a luz sobre o beijo que ilumina, e ao cantar dos pássaros se torna prece.
Nos vejo alí.
[Tu é a casa, a casa da minha alma aonde eu quero repousar],
Repouse também em mim, a tua alegria, aquele teu olhar.
Seremos então, uma luz só!
E a gente se encontra.'


(C.M.P - Vuldibite Ranota Leso).

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Tapetes Mofados e Uvas Verdes

'Aquela sala, tinha nas paredes o traço antigo, uma marca velha e a poeira dos anos.
A madeira antes lustrosa, agora range com o caminhar; e se o piano enferrujado resolvesse tocar uma valsa, uma valsa solitária que hoje não tem par, os passos seriam guiados de olhos fechados pelo coração.

Antigamente aquela casa, assim como a sua fachada e o jardim com suas filhas, eram todas rosês; hoje em dia o verde, o fungo e o limo emprestam a sua cor.
Na mesma sala onde se valsava uma dança calma, o lustre brilhava e refletia na cristaleira antiga todas as cores de um árco-íris; vestidos de todos os tons entravam se rodopiavam e saiam do salão;
Inúmeras risadas afáveis, maliciosas e descontraídas rolavam por todos os cantos; Algumas taças de licor de hortelã circulavam pelas mãos de belas mulheres, que quando a mais jovem era cortejada ou uma senhora se ruborizava, derramavam, caíam e quebravam pelo chão.

E o tapete tomava, bebia dos últimos goles lascivos que iriam até a boca daquelas mulheres.
E assim infiltrava um verde desconhecido, que pouco a pouco com o anoitecer e o arrastar da ponta dos vestidos tornava-se então insensível.
Ao final, quando a música sessava, as gargalhadas se ridicularizavam, e os olhares infames, promíscuos, maliciosos e ingênuos daquelas moças se iam,

Ficava apenas um vazio, uma memória, um banquete de uvas pela mesa sem gozo algum;
O tempo, os anos as lembranças...
E hoje ali naquela casa, só restou um velho tapete mofado e uvas verdes, a única coisa viva daquele seu quintal'.

(C.M.P)