sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Tapetes Mofados e Uvas Verdes

'Aquela sala, tinha nas paredes o traço antigo, uma marca velha e a poeira dos anos.
A madeira antes lustrosa, agora range com o caminhar; e se o piano enferrujado resolvesse tocar uma valsa, uma valsa solitária que hoje não tem par, os passos seriam guiados de olhos fechados pelo coração.

Antigamente aquela casa, assim como a sua fachada e o jardim com suas filhas, eram todas rosês; hoje em dia o verde, o fungo e o limo emprestam a sua cor.
Na mesma sala onde se valsava uma dança calma, o lustre brilhava e refletia na cristaleira antiga todas as cores de um árco-íris; vestidos de todos os tons entravam se rodopiavam e saiam do salão;
Inúmeras risadas afáveis, maliciosas e descontraídas rolavam por todos os cantos; Algumas taças de licor de hortelã circulavam pelas mãos de belas mulheres, que quando a mais jovem era cortejada ou uma senhora se ruborizava, derramavam, caíam e quebravam pelo chão.

E o tapete tomava, bebia dos últimos goles lascivos que iriam até a boca daquelas mulheres.
E assim infiltrava um verde desconhecido, que pouco a pouco com o anoitecer e o arrastar da ponta dos vestidos tornava-se então insensível.
Ao final, quando a música sessava, as gargalhadas se ridicularizavam, e os olhares infames, promíscuos, maliciosos e ingênuos daquelas moças se iam,

Ficava apenas um vazio, uma memória, um banquete de uvas pela mesa sem gozo algum;
O tempo, os anos as lembranças...
E hoje ali naquela casa, só restou um velho tapete mofado e uvas verdes, a única coisa viva daquele seu quintal'.

(C.M.P)

Nenhum comentário:

Postar um comentário